1718 – 1747
...26 de Dezembro. Fui visitado esta noite por uma pessoa sob grande aflição espiritual, o caso mais notável que já tenho visto. Conforme creio, ela tem mais de oitenta anos de idade; parece estar muito alquebrada e até caduca por causa da idade, de tal modo que parecia impossível inculcar-lhe quaisquer esclarecimentos sobre as realidades divinas, quanto menos dar-lhe qualquer instrução doutrinária, pois parecia incapaz de ser ensinada. Foi conduzida à minha casa pela mão, parecendo estar extremamente angustiada. Perguntei-lhe o que a estava incomodando. Ela respondeu que seu coração estava aflito, pois temia que jamais encontraria Cristo. Perguntei-lhe quando começara a ficar interessada por Cristo, além de outras perguntas relacionadas ao seu estado. O resumo de tudo quanto me respondeu foi o seguinte: Ela tinha me ouvido pregar por muitas vezes, mas nunca tinha entendido nada, nem seu coração sentira alguma coisa, senão no último domingo. Então aconteceu... como se fosse uma agulha que a tivesse espetado no coração; desde aquela hora não tivera mais descanso, nem de dia nem de noite. Ela acrescentou que na véspera de Natal, estando reunidos alguns índios na casa onde ela se achava, falando eles acerca de Cristo, a conversa compungiu-a no coração, de tal maneira que ela nem ao menos pudera manter-se de pé, mas caiu prostrada na sua cama.

Nessa ocasião ela passou por um "desmaio", conforme expressou a questão, parecendo estar sonhando, embora tivesse a certeza de que não era sonho. Estando fora de si, ela viu dois caminhos; um deles parecia bem largo e tortuoso, e virava para a esquerda. O outro parecia recto, bem estreito; e subia colina acima, virando para a direita. Ela prosseguiu dizendo que foi caminhando por algum tempo pelo caminho estreito, à direita, até que, por fim, algo parecia obstruir o caminho. Algumas vezes ela pensava que era a escuridão; mas também descrevia a obstrução como se fosse um bloco ou barra. Ela lembrou-se, então, de ter-me ouvido dizer sobre porfiar por entrar pela porta apertada, embora nem tivesse dado atenção quando me ouviu falar; e pensou que poderia subir por cima daquele obstáculo. Mas quando ela estava pensando nisso, voltou (com o que quis dizer que voltou a si), quando então sua alma ficou extremamente aflita, por ter entendido que voltara as costas para Cristo, esquecendo-se dEle, e que agora, portanto, não restava misericórdia para ela.

Visto que eu reconhecia que transes e visões imaginárias têm uma tendência perigosa na religião, se elas forem buscadas e houver dependência a elas, não pude deixar de ficar preocupado com o que ela me dizia, especialmente no início. Eu entendera que aquilo poderia ser um ardil de Satanás, a fim de macular a obra de Deus neste lugar, introduzindo cenas visionárias, terrores imaginários e toda maneira de desordem mental e engano, em lugar da genuína convicção de pecado e das influências iluminadoras do bendito Espírito de Deus. Eu estava quase resolvido a declarar que considerava o fato como um dos truques de Satanás, acautelando meu povo contra essas e outras práticas da mesma natureza. Entretanto, preferi primeiro sondar o conhecimento dela, para ver se ela possuía uma visão correcta das coisas, que justificasse sua presente preocupação, ou se era apenas medo, oriundo de terrores imaginários. Fiz-lhe numerosas perguntas sobre o estado primitivo do homem, e especialmente sobre seu estado actual, como também acerca do seu próprio coração. A tudo respondeu de modo racional, para minha surpresa. Pensei ser praticamente impossível que uma mulher pagã, já senil devido à muita idade, pudesse ter tanto conhecimento através da mera instrução humana, a não ser que fosse notavelmente iluminada pelo Espírito de Deus.”...

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