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"Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo." [Hebreus 2:17]
"Na natureza humana de Cristo há duas coisas a serem consideradas, a saber: a essência da carne e os afetos ou sentimentos. O apóstolo, pois, ensina que ele se vestiu não só da própria carne humana, mas também de todas as emoções afetivas que são inerentes ao homem. Ele mostra também os frutos que nos advêm dai e qual o legitimo ensino da fé, quando sentimos em nós próprios a razão por que o Filho de Deus tomou sobre si nossas enfermidades. Sem tais frutos, todo nosso conhecimento seria frio e inanimado. Ele prossegue ensinando que Cristo se fez sujeito às nossas paixões humanas "para que pudesse ser misericordioso e fiel sumo sacerdote".²²
O Filho de Deus não tinha necessidade de passar por alguma experiência a fim de conhecer pessoalmente a emoção da misericórdia. Entretanto, Ele jamais nos teria persuadido de sua bondade e prontidão em socorrer-nos, não fosse ele provado por nossos próprios infortúnios. E tudo isso ele nos concedeu como favor. Portanto, quando nos sobrevém toda sorte de males, que isso nos sirva de imediata consolação, a saber: que nada nos sobrevém sem que o Filho de Deus já o tenha experimentado em sua própria pessoa, para que pudesse ser-nos solidário. Nem duvidemos de que ele está conosco como se ele mesmo sofresse a nossa própria dor.²⁴
Notas
22. Em concordância com minha concepção pessoal, temos aqui um exemplo de arranjo semelhante ao que repetidas vezes deparamos nos profetas, e que ocorre no versículo 9; isto deve ser visto como uma parte deste versículo e do seguinte posto em versos:
Para que se compadecesse,
E fosse fiel sumo sacerdote nas coisas de Deus,
Para fazer expiação pelos pecados do povo;
Pois, como ele sofreu, sendo ele mesmo tentado,
Pode socorrer os que são tentados.
A primeira e última linhas se correspondem entre si, e a segunda com a terceira. Ele é compassivo, porque pode solidarizar-se com os que são tentados, tendo sido, ele mesmo, tentado; e é um verdadeiro e fiel sumo sacerdote, porque realmente expiou os pecados do povo; e, para que fosse tudo isso, ele se tornou como seus irmãos, assumindo sua natureza.
24. Este parágrafo, que começa no versículo 5, tem início com o que é pertinente ao ofício régio - domínio e o que o acompanha: glória e honra, e para fazer de seu povo reis, bem como sacerdotes, para Deus. O domínio e a glória prometidos aos fiéis desde o princípio se percebem mesmo na primeira promessa feita ao homem caído, e desenvolvido mais plenamente depois, foi que em si mesmos não tinham poder. Daí tornou-se necessário que o Filho de Deus se tornasse o filho do homem, para que pudesse obter para seu povo o domínio e a glória. Este parece ser o ponto em pauta, que nos é apresentado nesta passagem. Os filhos de Deus, antes que Cristo viesse ao mundo, eram como que herdeiros em sua menoridade, ainda que fossem donos de tudo. Ele veio, assumiu nossa carne e efetuou tudo quanto era necessário para que tomassem plena posse dos privilégios que lhes foram prometidos (cf. Gl 4:1-6).
João Calvino - Comentário de Hebreus - Editora Fiel, p.74-76
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